Convivo com a ansiedade faz muito tempo já. Lembro dos meus pais me falando que se eu continuasse sofrendo tanto com antecedência pelas coisas eu ia sofrer muito na vida. E eu sofro. Não sou aquela pessoa tranquila que espera as coisas acontecerem numa boa, sempre estive mais para a pessoa que fica com desconforto no estômago, e até um certo enjoo combinado com perda de apetite. Nunca me considerei uma pessoa perfeccionista, até hoje não me considero, mas acho que deve haver algo do perfeccionismo relacionado a este mal-estar tão grande. Algo como um medo de não ser suficiente, de não atender às expectativas, de ser uma fraude (alô, famosa Síndrome da Impostora!).
O próprio início deste texto já demonstra a minha ansiedade atual. Não foi um início com uma introdução leve para só depois ingressar no tema principal, como eu normalmente faço. Foi assim, direto, na lata. Não sei o que faz com que certas pessoas sejam como eu e certas pessoas (abençoadas) sejam tão tranquilas em relação aos acontecimentos da vida. Só digo que invejo, e muito, as pessoas do segundo grupo. O que eu sei é que tem dias que dá mais vontade de simplesmente ser rica e sair pelo mundo, sem a necessidade de tentar trazer significado para a própria existência. Alguns dias são mais assim do que outros, e, no meu caso, a ansiedade está diretamente relacionada com essa discrepância.
Acredito que a maior diferença que a idade fez na minha ansiedade foi em relação às coisas que me deixam ansiosa. Quando mais nova, a quantidade de situações que poderiam me causar ansiedade eram bem maiores. Hoje, ainda bem, a sensação de um vazio gelado dentro do estômago ocorre mais espaçadamente na minha vida. Ainda assim, quando ela vem é desconfortável. É um misto de medo com vontade de desistir de tudo, ou algo assim, é difícil de descrever. E, apesar da certa frequência ao longo dos anos, nunca consegui me acostumar com esse sentimento angustiante. Acabo criando maneiras de lidar com ele. É aí que o meu lado racional entra em ação, trazendo diversas situações em que, apesar da bendita, correu tudo bem. Bem não, muito bem.
Veja, a ansiedade nem sempre precede algo ruim, muitas vezes é até o contrário, só que esse medo que ela traz torna difícil enxergar isso claramente quando ela vem. Por isso eu acabo racionalizando essa sensação e pensando que infelizmente eu sou assim, mas que provavelmente vai ficar tudo bem. O bom é que eu dificilmente me deixo paralisar pela ansiedade, acabo quase sempre fazendo o que precisa ser feito; o ruim é que termino sofrendo um tanto desnecessário para realizar o que eu preciso. E sim, eu tento meditar quando me vejo nesses dias, mas nem sempre funciona. Conversar sobre o que me aflige acaba sendo o mais indicado, por mais simples que pareça, porque as vezes só precisamos ouvir de outra pessoa que vai ficar tudo bem.
Quem tem ansiedade sabe que, na grande esmagadora maioria das vezes, esse medo irracional não se justifica. Acabamos nos desgastando por nada, ou quase nada. O problema é que apesar de sabermos disso não conseguimos controlar. O importante, acho, é não nos deixarmos limitar por esse sentimento, pois, por mais que não consigamos controlá-lo, também não devemos deixar que ele nos controle. Sabe o famoso “vai com medo mesmo”? Pois é, parece que foi feito para nós. E, no fim do dia, torcer para ter alguém que possa te dizer que vai ficar tudo bem, porque há grandes chances de que vai mesmo.
Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.
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